segunda-feira, 17 de outubro de 2016

O que Wagner Moura pode nos ensinar sobre tráfico de drogas

Primeiramente, FORA TEMER, eu preciso deixar claro que não foi o Wagner Moura, ele, o melhor ator do universo, mas sim seus personagens de maior sucesso e de características tão opostas: Pablo Escobar, o traficante de drogas mais famoso do mundo e Capitão Nascimento, o "herói" do Rio de Janeiro. O que eu quero traçar nesse post é uma linha entre esses dois personagens e o que essa ligação nos ensina sobre a falida “guerra às drogas”.
Então vamos começar com o primeiro Tropa de Elite: Capitão Nascimento é um policial do BOPE, a tropa de elite da polícia, e precisa treinar um substituto para seu cargo enquanto prepara seus soldados para a missão de proteger o Papa em sua visita ao Rio de Janeiro e, durante essa narrativa, entramos em contato com o ponto de vista do personagem sobre sua profissão e sobre o tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Nascimento, em diversas partes do filme, é o que chamamos de “reaça”: usa tortura para conseguir informações, invade moradias à procura de traficantes, odeia usuários de drogas e qualquer defensor dos direitos humanos. Nesse primeiro filme, Nascimento é puro ódio. Não consegue ver nada além daquilo que está condicionado a ver: o tráfico deve ser exterminado e só será exterminado quando todos os traficantes morrerem. Ponto. Já no segundo filme, como o subtítulo mesmo informa, o inimigo é outro, Nascimento é promovido a secretário de segurança do Rio de Janeiro e descobre que exterminar o tráfico de drogas e a violência causada por ele não é tão fácil quanto parecia quando ele “apenas” dava um tiro na cara de alguém. Ele entra em contato com um mundo podre de milicianos e pessoas do governo e da TV que apoiam e financiam o tráfico. Nascimento acaba descobrindo que os defensores dos direitos humanos, entre eles o seu maior desafeto, o deputado Fraga (que pra quem não sabe foi inspirado no Marcelo Freixo) não são defensores de bandido e sim seus maiores aliados na luta contra a violência gerada pela guerra ao tráfico. O final do filme é bem utópico (ou não?), com Nascimento expondo a verdade nojenta sobre todas as coisas que descobriu trabalhando na política.

            Saindo do Rio de Janeiro no começo dos anos 2000 e indo para a Colômbia da década de 80, temos Pablo Escobar, personagem interpretado por Wagner Moura na série Narcos, da Netflix. Se você não viu a série, deve pelo menos saber quem foi Pablo Escobar e como tudo terminou. Pablo foi o maior traficante de drogas da Colômbia, chegando a ser um dos homens mais ricos do mundo, mas, mesmo com toda a visibilidade, a polícia colombiana em conjunto com a DEA (Drugs Enforcement Administration) tentaram capturar Pablo por mais de um ano sem sucesso (sim, ele era muito esperto). Apenas em 1993, depois de muitas tentativas, Pablo foi morto pela polícia, com direito até a foto (muito horrível, diga-se de passagem). Na série, após a morte de Pablo, são mostradas várias cenas de pessoas comemorando e a foto real de Pablo morto com os policiais sorrindo ao lado dele também é uma prova de que a morte dele significava um alívio para muitos, que talvez acreditassem que aquilo significava o fim do tráfico, porém, de 1993 até hoje pouca coisa mudou na Colômbia e no mundo inteiro, afinal se tivesse mudado, Capitão Nascimento, no Brasil, nem teria virado filme.


            O que a gente pode entender da história desses dois personagens é que a guerra ao tráfico é inútil. Capitão Nascimento foi e ainda é exaltado por muitos que não entenderam a real mensagem do filme e acreditam que “bandido bom é bandido morto” como se a morte de “bandidos” fosse a solução para o fim de um sistema que envolve muito mais gente do que o dono da boca ou o moleque que te vende droga na porta da faculdade. E a gente sabe quem morre com isso: os jovens e os moradores das favelas, em sua maioria, negros. Hoje a guerra às drogas se tornou uma guerra aos pobres, já que raramente veremos jovens de classe média alta que consomem drogas ser julgados da mesma maneira que um jovem da favela. Além disso, a falta de uma política de drogas no Brasil e em outras partes do mundo é um atraso que só facilita o caminho para a entrada ilegal da droga. E falando em política de drogas, chega a ser trágico a falta de explicação para a legalização do álcool e do cigarro e a proibição da maconha. Enquanto você assiste Murphy, em Narcos, perseguir um traficante de drogas, você nunca o vê sem um cigarro na mão ou um copo de whisky ou café (sim, cafeína vicia e é droga, mas gente consome sem medo). Alguns apenas dizem “a maconha é a porta de entrada para outras drogas”, sim, enquanto não for legalizada, os vendedores vão te oferecer outras coisas pra te deixar mais chapado, assim como quando você vai numa loja de roupas comprar um vestido e sai de lá com uma blusa e uma calça. Traficante também é vendedor, só muda o produto. Então porque não legalizar e quebrar esse mercado? Porque não interessa pra quem está acima da cadeia de violência gerada pelo tráfico, simples assim. Enquanto a guerra às drogas só causar danos pra quem está aqui embaixo, o sistema não vai se interessar em mudar e muitos Pablos ainda irão surgir, muitos carteis irão se formar e muitos Capitães Nascimentos irão se formar, mas poucos chegarão ao segundo filme: talvez por nunca conseguirem enxergar a sujeira ou porque a própria guerra os matará.

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