sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

#1LIVROPORMÊS: Ainda estou aqui


Dando sequência a uma das metas de ano novo que é conseguir conciliar tudo e ler #1livropormês, o post de hoje é sobre o segundo livro da tag: Ainda estou aqui, do Marcelo Rubens Paiva.
Provavelmente você já leu ou ouviu falar do maravilhoso Feliz ano velho, livro mais famoso do Marcelo, no qual o autor relata o acidente que o deixou tetraplégico. Em Ainda estou aqui, Marcelo volta a narrar eventos de sua vida pessoal, dessa vez desde a infância – quando seu pai, o político Rubens Paiva, desapareceu durante a ditadura militar – até o momento presente, com a mãe sofrendo de Alzheimer.
De início, pensamos se tratar apenas de um livro de memórias e de como é difícil cuidar de um paciente com Alzheimer, mas nem precisamos ler muitos capítulos pra perceber que além de ser um meio de desabafar sobre o peso de lidar com o desaparecimento do pai durante anos e a busca por uma justiça que nunca foi feita de fato, Ainda estou aqui é um acerto de contas na relação de Marcelo com sua mãe, Eunice. O título, entendemos depois, é a expressão que sua mãe usa depois de alguma confusão mental causada pela doença.
Marcelo sempre se refere à mãe no passado, mesmo ela estando viva, pois a doença parece ser um divisor de águas na vida de Eunice, que sempre leu muito, estudou muito e trabalhou muito. Era uma mulher ativa, que guardou o luto e a dor da perda do marido pra ela, enquanto trabalhava (muito!) como advogada especializada em causas indígenas, e hoje é totalmente dependente da família e de cuidadores. Marcelo conta que Eunice nunca foi uma mãe extremamente amorosa, ela demonstrava afeto a sua maneira e, segundo o próprio, deve ter lhe beijado umas quatro vezes durante a vida toda, mas nos emociona ao relatar que, mesmo com a doença e todo o esquecimento que ela traz, Eunice continua a pegar sua mão e esticar os dedos um a um para ajudar na fisioterapia, como sempre fez desde a época em que Marcelo sofreu o acidente.


O livro foi lançado no segundo semestre do ano passado e foi a forma que Marcelo encontrou para extravasar a angústia que sentia enquanto via manifestações pedindo a volta da ditadura militar se intensificarem pelo país, pouco tempo depois de ter a morte de seu pai “finalmente solucionada” pela Comissão da Verdade (Rubens não resistiu ao segundo dia de tortura e morreu. Seu corpo foi enterrado e desenterrado para, enfim, ser jogado ao mar, segundo testemunhas). Tudo isso somado ao nascimento de seu filho e à doença da mãe.
            Sabemos que essa não parece ser a intenção de Marcelo em seus livros, mas Ainda estou aqui pode nos fazer chorar em diversos momentos do livro (essa pessoa que vos escreve, por exemplo, chorou em quase todos os capítulos).
            Ainda não sei quais serão os próximos livros da minha saga de #1livropormês, mas, com certeza, Ainda estou aqui é um dos melhores livros que li entre 2016 e 2017. A narrativa é emocionante, a história da família de Marcelo merece ser contada, Eunice é uma mulher forte e inspiradora e, ainda, temos uma aula de história sobre um dos piores períodos de nossa história e percebemos que, infelizmente, muitos aspectos desse período ainda não foram apagados da mentalidade do povo brasileiro e da estrutura política de nosso país (que sofreu outro golpe recentemente, como a gente sabe).
           
Título: Ainda estou aqui
Autor: Marcelo Rubens Paiva
Editora: Objetiva

Ano: 2016

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